data-filename="retriever" style="width: 100%;">Eis que chegaram as "águas de março fechando o verão" e o país se depara com a fase mais aguda da pandemia, resultado de um misto de irresponsabilidade e incompetência. Irresponsabilidade de uma parte da população, que se recusa a tomar cuidados simples para evitar a transmissão da doença, e de uma inacreditável incompetência do Ministério da Saúde. O que se vê é um barco à deriva que flutua sem nenhum comando, onde os tripulantes, indefesos, são jogados ao mar.
O Brasil vacinou, passados 40 dias da 1ª imunização, 6,3 milhões de pessoas contra o Covid, que significa apenas 2,99% da população. Mantido esse ritmo, até o final do ano seriam vacinadas cerca de 60 milhões de pessoas - o equivalente a menos que um terço da população. Por outro lado, já foram vacinados mais de 70 milhões de cidadãos norte-americanos, 40 milhões de chineses, enquanto a União Europeia imunizou 32 milhões de pessoas.
Embora existam países que vacinaram menos, não custa lembrar que o Brasil é o 2º país com maior número de mortes (mais de 260 mil), só superado pelo EUA - país em que a vacinação está bastante adiantada. Trump, apesar do discurso negacionista, destinou bilhões de dólares para a pesquisa de vacinas, enquanto que o Brasil ficou "politizando" a crise da saúde com o ineficaz "tratamento precoce", não fez planejamento nenhum e levou meses para fechar acordos com os laboratórios. Resultado: quem chega tarde no mercado, paga mais e ainda arrisca a não conseguir o produto.
Mas não é só na saúde que o governo Bolsonaro é uma tragédia. Na economia não é diferente. Para não cair numa discussão ideológica estéril, vamos aos fatos. O que impressiona é a magnitude dos dados. Uma variável econômica muito importante é a dívida do governo, pois ela influencia outras variáveis como a taxa de juros e o dólar. A dívida pública bruta alcançou 89,7% do PIB em janeiro de 2021, o equivalente a R$ 6,67 trilhões - maior percentual da série histórica iniciada em dezembro de 2006.
A principal causa desse crescimento é a incorporação de juros pagos pelo governo para financiamento na dívida, responsável por 0,5 ponto. A dívida líquida, que deduz os ativos do governo, alcançou 61,6% do PIB ou R$ 4,58 trilhões. O resultado primário, conceito que indica a capacidade do governo pagar as contas e que não incluí os juros da dívida, nos 12 meses até janeiro, acusou um déficit (despesas maiores do que as receitas) de R$ 700,9 bilhões, o equivalente a 9,43% do PIB.
Os credores estão preocupados sobretudo com o resultado primário, pois é ele que indica se o país terá capacidade de saldar as suas dívidas ou não. Tanto é assim que o risco-país subiu 14% em 2021. É claro que a magnitude do déficit é causada, em parte, pela queda da arrecadação e pelas despesas da pandemia, como o auxílio emergencial e a compra de vacinas. Entretanto, a velocidade de crescimento da dívida é muito alta. Nesse ritmo, em breve a dívida alcançará a totalidade do PIB. Isso explica, a meu ver, o dólar a R$ 5,60.
O PIB de 2020 caiu 4,1%, o que representa o pior resultado desde 1996, ano de início da atual série histórica do IBGE. Em valores correntes, o PIB alcançou R$ 7,4 trilhões, enquanto o PIB "per capita" diminuiu 4,8% - a maior queda registrada em 25 anos. Já o IPCA, índice de inflação oficial, cresceu 4,52% em 2020. O pior de tudo: a taxa média anual de desemprego em 2020 foi de 13,5%, a mais elevada desde que a série histórica começou a ser calculada em 2012, o que corresponde a 13,4 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.
Tudo bem se você acha que os economistas são catastrofistas, mas os números citados mostram fatos. E não se pode desmentir o que é fato. A não ser que você seja um negacionista que vive fora da realidade.